A mulher presa em flagrante em Eunápolis, na noite de quinta-feira (27), acusada de mandar matar o próprio cachorro, foi solta na manhã desta sexta-feira (28), após audiência de custódia. O caso aconteceu por volta das 19h em uma casa no bairro Dinah Borges. Segundo a denúncia, o cão foi espancado por dois homens, que teriam sido contratados pela acusada, e só escapou da morte porque os vizinhos escutaram os gemidos do animal e o barulho das pauladas e chamaram a polícia.
O animal está internado no hospital veterinário, onde se recupera das diversas lesões sofridas. Segundo informações da veterinária que está tratando dele, e da ONG Patinha Solidária, que acompanha o caso, ele sofreu fratura em uma das patas, quebrou alguns dentes e está com várias escoriações pelo corpo. “Está sendo monitorado para ver a evolução do quadro e não está descartado risco de vida”, adiantou a veterinária.
VERSÃO DA ACUSADA
A filha da mulher que foi presa entrou em contato com o RADAR 64 para dar sua versão do que teria acontecido. Ela diz que a intenção da mãe não era matar o cachorro a pauladas, apenas levá-lo para o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Segundo a moça, que é médica e mora em Salvador, a mãe tem dois cachorros e se divide entre Eunápolis e Salvador. Ela explica que o cachorro caramelo sem raça definida, que foi vítima dos maus-tratos, sofre de uma doença de pele diagnosticada como dermatite crônica. “Levamos no veterinário, fizemos tudo o que podia, mas não tem cura”, alega.
Por causa desse problema, a mãe teria entrado em contato com o CCZ de Eunápolis para ver o que poderia ser feito. “O pessoal do Centro de Zoonoses sugeriu sacrificar o cachorro. Eles vieram até a casa da minha mãe, visitaram o cachorro e mostraram para ela todo o protocolo”, diz a filha. Ela afirma que o CCZ teria orientado a mãe dela a comprar anestésico e conseguir transporte para o cão até a unidade de zoonoses, pois o serviço de remoção não está sendo feito pelo órgão municipal. Portanto, sua mãe estava apenas seguindo a orientação do CCZ.
“Ontem (quinta-feira), ela e meu tio chamaram um chapa na rua para colocar o cachorro no carro e levar para o CCZ. Mas ninguém conseguiu pegar o cachorro, porque ele é valente. Então, meu tio saiu para comprar uma focinheira. Minha mãe deixou esse rapaz dentro da garagem sozinho com o cachorro e saiu atrás de uma corda.”
Conforme a versão da filha, o cachorro teria tentado morder o rapaz quando foi amarrar o animal e, para se defender, ele teria dado umas pauladas no cão. Um dos vizinhos ouviu e chamou a polícia. “O rapaz foi embora e meu irmão ficou esperando a polícia chegar. Quando os policiais chegaram, minha mãe nem estava em casa”, argumenta.
Sobre a afirmação feita na delegacia pelo ex-genro da acusada, de que há tempo ela vinha maltratando o cachorro por ter sido um presente dele ao filho, a médica conta que não vê o ex-marido há mais de dois anos e que esse cão não foi dado por ele.
A moça garante que pretende pagar a conta do hospital veterinário que está tratando do cachorro vítima de espancamento. Sobre o destino do outro cachorro da mãe, da raça Shih Tzu, adianta que deverá ficar aos cuidados de uma prima dela ou será levado para Salvador. A Lei nº 14.064/2020, conhecida como Lei Sansão, proíbe que pessoas indiciadas por maus-tratos tenham posse de outros animais.
VÍDEO CONTRADIZ VERSÃO DA FILHA
Vídeos do circuito de segurança de casas da rua onde ocorreu o caso de maus-tratos, e que já estão com a polícia, contradizem algumas informações passadas pela filha da acusada. Uma delas é com relação ao horário. De acordo com a filha, o objetivo era levar o cachorro para o CCZ, e a tentativa de capturar o animal teria ocorrido ainda em horário comercial. No entanto, o vídeo mostra um carro estacionando em frente à casa às 18h45min, horário em que o Centro de Zoonoses não está mais aberto. Na imagem, também é possível ver quando um dos homens pega um pedaço de madeira no porta-malas do carro e entra no portão da casa.
O QUE DIZ O CCZ
O coordenador do Centro de Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), médico veterinário Carlos Magno França, nega que a unidade teria sugerido levar o animal para a eutanásia. “Essa mulher foi notificada três vezes pelo CCZ. Fomos três vezes na casa dela e, na próxima vez, entraríamos com ação judicial para que entregasse o cachorro. Não quis entregar nas três vezes anteriores e agora comete um absurdo desses”, diz França.
Ele esclarece que o CCZ não pode e nem deve fazer eutanásia, tampouco tratamento em cachorros, porque não é clínica nem hospital veterinário público. “O CCZ só faz eutanásia em casos de animal com leishmaniose, que é uma zoonose. Mas o CCZ não pode fazer eutanásia só porque o cachorro está com algum problema e a pessoa não quer mais o animal ou não quer gastar dinheiro com tratamento”, acrescenta.
Segundo a própria filha da acusada, os vizinhos já haviam feito denúncia ao CCZ, no mês passado, dizendo que o cachorro estava abandonado e não estava sendo alimentado.
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